terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A chuva, a pele e o mar



Alçam as velas! Atmosfera sideral.
Negra e suada pele que a fina chuva banha.
Alívio em mãos calejadas. Gotas de um irrealizável orvalho passeiam por nódulos da carne áspera.
Tormenta.
Impiedosa intempérie afoga os sons da labuta cativa.
Navio negreiro que não aporta.
Trabalha o corpo, trabalha a alma que a água lava. Navegam ondas em verdugo açoite. Maxilares impassíveis a fustigarem tantos sonhos...
Olhos rociados marejam narizes de asas largas.
Boca que amarga o fel das correntes.
E nunca mais serão insípidas as águas que escorrem por entre as frestas da madeira à mercê do vento.

Maresia já ecoa.
Burburinhos estrangeiros aportam. Mercadoria entregue.



(pintura de Salvador Dali, 1904-1989)

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