quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Trégua



e de repente, ela sorriu e as lágrimas secaram
deixando a face aderente esquecida da tristeza.




(pintura de Pablo Picasso, 1881-1973)

FALSETE


ÁGUA
AR
DENTE

ENTE
(que) SENTE
MENTE?!


(pintura de Pablo Picasso, 1881-1973)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dia-a-dia, ponto a ponto



Toda delicadeza é embrutecida pelo cotidiano, pelos detalhes ásperos da convivência.

Mas é a aspereza sem cerimônias que nos ajuda a ter intimidade e confiança para peidar, gozar e sorrir acompanhada.



(pintura de Marc Chagall, 1887-1985)

domingo, 22 de novembro de 2009

Fartura



Cana, maracujá
mangaba.
Banana-maçã
goiaba.

Mamão
laranja-lima
papaia.

Abacaxi, umbu.

Flor de jambo
cor manga-rosa
cheiro do sapoti

hão de encher
tua boca d’água!


(pintura de Henri Matisse, 1869-1954)

sábado, 21 de novembro de 2009

UM DIA


uma árvore me sorriu.

Estendeu suas folhas como largos braços
e abriu sua bocarra verde,
piscando seus olhos pretos e miúdos.

assim, começamos o namoro.

As árvores e eu somos, hoje, amantes,
cúmplices no vento.


(pintura de Frida Kahlo, 1907-1954)

Na Esperança da Chuva

Estão secos os galhos
na terra rachada
que um sol escaldante observa.

São firmes as raízes
e teimoso é o córrego
que sonha em ser rio de novo.

E quando a chuva cair
– porque ela haverá de cair –
um sertão colorido vingará!

Galho seco fica verdinho
a terra em passarinho
e o córrego-menino é rio outra vez.

(pintura de Salvador Dali, 1904-1989)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Mãe do Campo

(pintura de Diego Riviera, 1886-1957)


Espanta o cansaço,
colhe o milho dançador.
Espanta o cansaço
“debuia” feijão de corda.

Espanta o cansaço
assa mandioca,
faz a farinha.

sorri o menino, rodopia a moça
e parecem rasas as rugas daquele rosto cansado...

Mas, enxuga o suor
Esquece a dor do espinhaço
quentura do sol
e acorda a enxada.

Cuida da roça,
da terra árida
e espanta o cansaço.

que pra viver no sertão não se pode dar cabimento à fadiga.






A menina com areia no cabelo





De ponta cabeça
- pretinhos olhos infantis -
o mundo mais perto da boca e do nariz!

E no lugar do pé,
o queixo marca a areia...




(pintura de Pierre Auguste Renoir, 1841-1919)

CONVITE



- E me pegava na rua?!
- Sim.
- Num muro qualquer?
- Sim.

- Por que não vem?
- Aqui.



(pintura de Henri de Toulouse, 1864-1901)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Índia- Mãe



Teu fruto em teus braços
seguro do afeto

tuas mãos que educam.

E a natureza atenta
é aconchego

teus ensinamentos e afetos maternos.




(pintura de Eckhout, 1610-1666)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Brasil de Muitos

(pintura de Candido Portinari, 1903-1962)


Sou do Brasil de muitos.

Meu país é de Buarque, de Meireles, de Veríssimo, de Drummond.
Meu país é com patativas, colibris, beija-flor.
Meu país é das Marias, dos Joãos, das Raimundas e Antônios.

Meu país é poesia, ritmo, samba, chorinho e bossa-nova.

É país da enxada
suor no rosto
calos na mão.
Meu país é de sorrisos, de soluços,
de dunas e cachoeiras.

Meu país criança é da
experiência
sobrevivência
é fortaleza.

Já esse país de mensalões é de poucos...

E no jogo de cintura, eu vejo meu Brasil

no acordar cedo
da correria do trabalho,
no voltar cansado
suado.

no contar moedas para o pão e cafezinho
e nas noites insones sem dinheiro.

Vejo esse Brasil de muitos

na cachaça com limão,
no espetinho de gato
com cerveja gelada
e samba improvisado.

É na morena que rebola
no banho de mar com chuva
e principalmente no gingar.

(...)

Insisto
e vejo assim o meu país.

Senão, o desgosto é grande.





Recordações em tons verdes


Ela, o irmão e a prima. Esconde-esconde, pega-pega, lagarta pintada por entre o banco traseiro e o "motor". Era assim que o pai chamava aquele retangular espaço de courino preto, destinado às malas de viagem ou a crianças miúdas – que nem ela; que nem eles – enquanto adultos se apertavam no intervalo das portas. Brincadeira na hora do rush. Da escola para casa, o mundo girava apressado e o fusca verde carregava todo um universo dentro dele.

O mundo continua a girar. Agora, ainda mais apressado... Para onde foram os fuscas verdes?!




pintura de Henri Matisse (1869-1954)